Esquema de manipulação no futebol expõe fraudes milionárias e rebaixamento de clubes

Júlia Moura October 9, 2024
Esquema de manipulação no futebol expõe fraudes milionárias e rebaixamento de clubes

Na última terça-feira (08), o empresário William Rogatto prestou um depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas, revelando detalhes sobre um esquema de manipulação de resultados no futebol brasileiro envolvendo o rebaixamento dos clubes. O depoimento de Rogatto, realizado por videoconferência, trouxe à tona práticas ilícitas que, segundo ele, estão em operação há mais de 40 anos, gerando lucros astronômicos e envolvendo diversas esferas do esporte. Ele confessou ter lucrado cerca de R$ 300 milhões ao longo de sua participação no esquema, que não se restringe ao Brasil, abrangendo também outros países como a Colômbia. 

De acordo com Rogatto, o esquema criminoso envolvia diretamente o rebaixamento intencional de clubes, prática que ele afirmou ter repetido com 42 equipes de diferentes estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal. Ele detalhou o funcionamento de um “complexo sistema” de manipulação, que incluía dirigentes de clubes, árbitros e outros agentes influentes, criando uma teia de corrupção que se estende por todo o país. Para corroborar suas declarações, Rogatto afirmou possuir provas como vídeos, fotos e gravações de negociações. 

O empresário deixou claro que os lucros originários da manipulação de resultados eram seu principal objetivo. Ele explicou que, ao fraudar os jogos, dependia diretamente do rebaixamento dos times para obter ganhos nas apostas esportivas. “Basicamente, eu engano o presidente do clube. Aquele time vai perder, e ele vai me beneficiar nas minhas apostas”, declarou Rogatto em audiência. 

Um ponto destacado durante o depoimento foi o envolvimento de árbitros no esquema, incluindo a manipulação de decisões no sistema de árbitro assistente de vídeo (VAR). Rogatto sugeriu que algumas decisões polêmicas em jogos poderiam ter sido influenciadas por esses acordos ilícitos. No entanto, quando questionado sobre a participação de grandes times, como Palmeiras e São Paulo, Rogatto se mostrou evasivo, deixando no ar a possibilidade de manipulação até em partidas decisivas. 

Além disso, ele afirmou que o esquema não se limitava a figuras esportivas. Rogatto mencionou o envolvimento de políticos, vereadores e prefeitos, indicando que o sistema corrupto é sustentado por interesses financeiros que abrangem diversas esferas da sociedade. Para ele, todos os participantes do esquema estavam em busca de uma coisa: dinheiro. 

Outro depoimento relevante foi o da presidente da Sociedade Esportiva de Santa Maria (DF), Dayana Nunes, que assumiu o comando do clube após seu marido sofrer um AVC hemorrágico. Ela relatou como conheceu Rogatto em um momento de fragilidade financeira e acreditou que ele poderia ajudar a salvar a equipe. No entanto, segundo ela, Rogatto acabou sendo o responsável pelo rebaixamento do time, manipulando os resultados para favorecer suas apostas. 

Ao longo de sua fala, Rogatto deixou claro que sua entrada no mundo das apostas aconteceu em 2009, após uma viagem a Las Vegas. Desde então, ele se envolveu profundamente no esquema, alegando que, se não fosse o maior operador desse sistema, certamente era um dos mais organizados. Ele admitiu que a expansão de suas operações para outros países foi motivada pela vida de luxo que passou a levar na Europa, o que, segundo ele, justificaria a necessidade de continuar a manipular jogos e lucrar com apostas. 

Por fim, o empresário se autodenominou o “rei do rebaixamento”, indicando que seus ganhos vieram da falta de preocupação de dirigentes de clubes com a situação de suas próprias equipes. Ele concluiu afirmando que, se os presidentes dos times não estavam interessados em proteger suas equipes, ele não teria motivos para se preocupar.  

A CPI das Apostas, diante das revelações feitas por Rogatto, planeja continuar suas investigações, inclusive com uma possível viagem a Portugal para ouvir o empresário pessoalmente e obter mais informações sobre o funcionamento do esquema de manipulação de resultados que, conforme ele, ainda está em atividade. 

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